O pão do povo

A justiça é o pão do povo.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.

Fora com a justiça ruim!
Cozida sem amor, amassada sem saber!
A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta!
A justiça de ontem, que chega tarde demais!
Quando o pão é bom e bastante
O resto da feição pode ser perdoado.
Não pode haver logo tudo em abundância.
Alimentado de pão da justiça
Pode ser feito o trabalho
De que resulta a abundância.

Como é necessário o pão diário
É necessária a justiça diária.
Sim, mesmo várias vezes ao dia.

De manhã, à noite, no trabalho, no prazer,
No trabalho que é prazer.
Nos tempos duros e nos felizes.
O povo necessita de pão diário
Da justiça, bastante e saudável.
Bertolt Brecht, dramaturgo alemão, 1898-1956