CAUSOS FOLCLÓRICOS DO JÚRI

Em crônica publicada pela mídia no ano de 2005 (site www.ibest.com.br), o advogado carioca Sérgio Bermudes, com muita inteligência e verve, reproduz narrativas de acontecimentos pitorescos no fórum, especialmente nos debates do salão de júri.

Assim, conta que num comarca do interior de Santa Catarina, iam longe os trabalhos, quando um jurado levanta a mão, timidamente, e pede para ir ao banheiro. Calouro inexperiente, o juiz não permite: “Não pode não.” Promotoria e defesa correm em socorro do necessitado, para granjear-lhe a simpatia. O juiz, então, pergunta: “Quer dizer que ambos os senhores concordam em que o jurado vá ao banheiro?” A resposta vem enfática, de um lado e do outro: “Concordo!” Vira-se, então, o juiz para o jurado: “Neste caso, meu amigo, deixa eu ir primeiro porque estou apertado há muito mais tempo.”

Ainda no júri, desta vez em Mangaratiba, se a memória não masca, o escrivão lia as peças do processo. Chegou ao depoimento: “que ouviu quando a vítima mandou o réu à p… que o pariu”. Gargalhadas. O juiz fala grosso. Ameaça evacuar o recinto. Restabelece a ordem. Volta-se para o escrivão: “Onde estávamos, seu fulano?” “Na p… que o pariu, doutor.”

Ainda no gênero, o advogado estreante e muito nervoso, numa sustentação no tribunal: “Então, senhores desembargadores, a vítima provocou o réu, gritando: seu f. da p…,” em vez de “seu filho da p.”

Episódios grotescos, como aquele em que o juiz ensimesmado (no foro, costuma-se dizer atacado de “juizite”) repreende com aspereza a testemunha humilde que o tratou de “senhor”. Em voz alta: “o tratamento devido ao juiz é de ‘excelência’, compreende?” Encerrado o depoimento, o juiz mete-se numa longa conversa com o escrivão. Esquece-se de liberar a testemunha, que cria coragem e se dirige a ele: “Majestade, eu posso ir embora?”

Pior, aquele advogado que, para tocar a sensibilidade do júri, concluía a defesa: “o réu, senhores jurados, é um homem paupérrimo, mas honrado e trabalhador. Na última enchente, visitei o seu casebre. Boiavam, no chão alagado, as suas ferramentas de trabalho: boiava formão, boiava serrote, boiava martelo…” Não se conteve o promotor. Violou a regra de que não se aparteia o adversário na peroração, e interveio para dizer que aquilo era uma sandice. “Desde quando martelo, serrote e formão boiam?” Veio tranqüila a resposta: “quanta ignorância! Se navio, muito mais pesado, bóia…”

Não custa lembrar o velho advogado, pela primeira vez na tribuna do Supremo Tribunal Federal. Ele enaltece longamente o tribunal. Pára: “não que eu esteja querendo puxar ‘os sacos’ de V.Exas”.

Há ainda a história do advogado, citando na série, numa petição, o maior jurista brasileiro: “Diz o ‘impagável’ Pontes de Miranda, de ‘saudável’ memória.”

E para não deixar de fora o Ministério Público, existe a daquele promotor que deu parecer contrário ao pedido da mãe para vender imóvel da filha menor, porém já de triste fama: “MM. Juiz, sou contra. Conheço a mãe. Conheço a filha. Depois lhe conto.”